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Aplicando a avaliação primária ao paciente politraumatizado na residência em saúde | Colunista

Aplicando a avaliação primária ao paciente politraumatizado na residência em saúde | Colunista

O trauma é uma das principais causas de mortes e incapacidade física no mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os acidentes de trânsito são uma das principais causas de mortes de jovens entre 15-29 anos e são responsáveis por 1,25 milhão de morte por ano (1).

É importante conhecer a cinemática e mecanismo de lesão de cada trauma, para dispor da melhor assistência, pois eles diferem uns dos outros. É imprescindível o trabalho em equipe, a boa comunicação e organização do setor. Além disso requer do profissional uma abordagem estruturada e sistematizada, na qual reduz a morbimortalidade associada a esse tipo de paciente (1).

Avaliação Primária ao Paciente Politraumatizado

O atendimento inicial da vítima de trauma é realizado na sala de emergência, na qual é feito a avaliação primária, que consiste na sistematização da investigação de lesões que possam levar o indivíduo a morte iminente, seguindo uma ordem padronizada de prioridades, para identificar as causas e obter um diagnóstico rápido por parte do médico (1).

Essa ordem é sugerida pelo Advanced Trauma Life Support (ATLS), segue o mnemônico ABCDE, para facilitar a sua aplicabilidade (1).

Como todo paciente em sala de emergência, o paciente politraumatizado deve ser submetido a monitorização dos sinais vitais, acesso venoso periférico de grosso calibre, glicemia capilar, suporte de oxigênio se necessário, além de ser acomodado em decúbito dorsal em prancha rígida e colar cervical, para manter a mobilização (1).

A. (Airway) Vias aéreas

Nessa etapa é importante avaliar a perviedade das vias aéreas, mantendo a mobilidade da coluna cervical com o auxílio do uso de um colar cervical. Avaliando se há obstrução das vias aéreas, como corpo estranho, fraturas de face/ laringe ou até mesmo a queda da língua (1).

Isso pode ser verificado ao indagar o paciente seu nome e observar a capacidade de fonação e deglutição do mesmo. Se caso o paciente for capaz de falar e deglutir, significa que no momento a via aérea está protegida (1).

Caso haja alguma dúvida da capacidade do paciente proteger sua via aérea, uma via aérea avançada deve ser obtida (ex.: intubação orotraqueal). Em traumas de face extensos, uma via aérea definitiva deve ser a primeira opção (ex.: cricotireoidostomia) (1)

B. (Breathing) Ventilação e respiração

Nesta etapa a avaliação consiste em realizar a inspeção, palpação, ausculta e percussão afim de examinar todos os componentes responsáveis pela ventilação e oxigenação, como os pulmões, caixa torácica e diafragma (1)

Deve ser inspecionado todo o tórax e avaliar também se há a presença de turgência jugular e/ ou desvio da traqueia. Realizar a ausculta pulmonar, percussão e a palpação de toda a caixa torácica para avaliar possíveis alterações e indicativos de lesões ameaçadoras à vida, como pneumotórax hipertensivo, hemotórax maciço, tamponamento cardíaco, entre outros. Simultaneamente a este processo, deve instalar oximetria de pulso e ofertar oxigênio suplementar ao paciente (1).

C. (Circulation) Circulação com controle da hemorragia

Nesta etapa é essencial que se tenha mais atenção à hemodinâmica do paciente, buscando sinais de choque, avaliando a perfusão periférica, pulsos e nível de consciência. Pequenos sinais não devem passar desapercebidos, como pele fria e pegajosa, sudorese, pulso rápido e fino (filiforme), tempo de enchimento capilar prolongado (acima de 2 segundos) (1).

Deve ser feita a inspeção por locais que apresentem sangramento, caso encontre, devem ser controlados com curativo compressivos. Em caso de sangramento via uretral, não deve ser realizada a sondagem vesical (1).

Neste momento é importante manter a monitorização dos sinais vitais e obter um ou mais acessos venosos de grossos calibres para reposição volêmica (1).

D. (Disability) Avaliação neurológica

Nesta etapa deve se avaliar de maneira bem atenta a função neurológica, com o objetivo principal de determinar o nível de consciência do paciente, realizando a avaliação das pupilas, seu tamanho e sua reação a luz (1).Um instrumento muito utilizado para a avaliação no nível de consciência é a Escala de Coma de Glasgow (Tabela 1) (1, 2).

Uma pontuação abaixo de 8 na ECG significa “coma” ou “lesão cerebral grave”. Entre 9 a 12 pontos, configura “lesão cerebral moderada”. E entre 13 a 15 pontos são considerados como tendo uma “lesão cerebral leve” (2).

E. (Exposure and Environment) Exposição e controle do ambiente

Nesta etapa é importante a exposição completa de todo o corpo do paciente, afim de avaliar minuciosamente cada detalhe, buscando identificar outras lesões, possíveis queimaduras e abrasões. A inspeção deve ser feita inclusive na região do dorso, movimentando o paciente em bloco, para manter a imobilidade (1).

Ajustar a temperatura do ambiente e oferecer um cobertor aquecido ou de preferência uma manta térmica para manter ajustada a temperatura corpórea do paciente e diminuir o risco de hipotermia (1).

Considerações finais

É de suma importância que todas as etapas sejam realizadas de maneira sistemática e seguindo a ordem do mnemônico ABCDE. Cada etapa da avaliação primária, garante que o paciente ser assistido de forma integral. 

As etapas são avançadas de acordo que o paciente seja atendido e podem ser revisitadas durante o processo. Mas é essencial que se mantenha a ordem padronizada, para investigar as lesões ameaçadoras à vida do paciente.

Após a avaliação primária, quando o paciente se encontrar clinicamente estável, o mesmo será submetido a avaliação secundária, investigando lesões que não ameaçam imediatamente a vida, mas que podem gerar sequelas, desconforto ou piora do quadro clínico.

Requer do profissional atuante na sala de emergência competência especificas, com o conhecimento, habilidade e atitude em casos de urgência e emergência, estando preparado para qualquer intercorrência.

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Referências

  1. Neto, Adalberto Sdudart; et al. Medicina de Emergência: abordagem prática. 15º edição. Barueri [SP]: Manole, 2021. 1736 p. 
  2. Escala de Coma de Glasgow: Confira o Que Mudou. Cofen. Brasil [Online] [Consultado em: 23 de ago. 2021]. Disponível em: http://biblioteca.cofen.gov.br/escala-de-coma-de-glasgow/ 
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