Antes de diagnosticar a si mesmo com depressão ou baixa autoestima, primeiro tenha certeza de que você não está, de fato, cercado por idiotas.
– Sigmund Freud.
Olá, caro leitor.
Você sabe o que é depressão ou transtorno depressivo? Quais são seus sintomas e causas? Em qual faixa etária tem maior incidência? Tratamentos? Não?! Então vem comigo!!
Antes de começar a explorar detalhes desta psicopatologia, vamos entender de onde é a origem da palavra “depressão” bem como tornar claro o seu significado.
A palavra “depressão” é derivada do latim “depressio” de “deprimere” que significa pressão e combinada ao prefixo “de” denota o esvaziamento ou perda da pressão. Com isso, de antemão, a própria origem e significado da palavra nos inclina diretamente para um sintoma que normalmente, no senso comum, é retratado como fator chave para depressão, estou a falar da falta de energia. Amigo leitor, guarde este sintoma porque em breve retornarei para fazer um adendo.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) o transtorno depressivo se apresenta como um conjunto de sintomas que afetam as esferas, afetivas, somáticas e cognitivas, comprometendo de alguma forma a funcionalidade do sujeito.
O que muitas pessoas não sabem é que os transtorno depressivos são subclassificados em: Transtorno depressivo disruptivo da desregulação do humor; transtorno depressivo maior; disfórico pré-menstrual; Transtorno depressivo persistente (distimia); Transtorno depressivo induzido por substâncias/medicamento e transtorno depressivo devido a outra condição médica; Outro Transtorno Depressivo Especificado; Transtorno Depressivo Não Especificado.
A causa desta psicopatologia seja em qual for a subclassificação é multifatorial, ou seja, podem haver diversos eventos estressantes e adversos da vida que podem culminar em uma depressão, principalmente se estes eventos vivenciados não forem encarados de maneira funcional.
Alguns dos eventos são: Luto (Entenda aqui, como um luto tanto pela perda concreta ou simbólica), e este perpassa em inúmeras situações, como: Mudança de cidade (o que também pode ser caracterizado como um processo de luto se pensarmos na perda dos laços sociais); términos de relacionamentos; perda de um ente querido; excesso de consumo de substâncias psicoativas; estresse e ansiedade são outros componentes que podem levar a depressão.
Importante salientar que não necessariamente o vivenciar o luto culminará no transtorno depressivo, na verdade, ele poderá ser um preditor caso o seu processo não seja vivenciado adequadamente. Segundo o DSM-V, ressalta que tais sintomas do luto referente a perda podem se assemelhar aos do episódio depressivo e que o diagnóstico concreto perpassa no discernimento em que nível se dá as reações não esperadas ou anormal para aquele sujeito.
Vamos nos ater ao transtorno depressivo maior, que é a condição mais clássica e comum do diagnóstico, esta, pode acometer em qualquer faixa etária da vida, por isso é recomendável que as pessoas estejam cientes e atentas aos sintomas da depressão, bem como frequência e intensidade, pois segundo o DSM-V, preconiza a apresentação de no mínimo cinco sintomas e a persistência por duas semanas. Abaixo segue a lista de alguns dos sintomas do transtorno depressivo:
- Tristeza ou humor deprimido:
- Perda de interesse ou prazer em atividades antes apreciadas
- Alterações no apetite-perda de peso ou ganho não relacionado à dieta
- Insônia ou dormir demais
- Falta de energia ou aumento da fadiga
- Dificuldade para pensar, concentrar ou tomar decisão
- Idealização suicida
Espero que não tenha esquecido, caro leitor, do adendo que prometi fazer em relação ao sintoma da falta de energia que aqui explorarei como desânimo, acredito que melhor traduz a falta de energia e a indisposição, presentes tanto na etimologia da palavra quanto no sintoma citado acima.
Bom, é comum as pessoas pensarem que uma pessoa depressiva é aquela apática, triste, sem vontade de realizar atividades e enfim, desanimada.
No entanto, vale ressaltar que o oposto disso, ou seja, uma pessoa que está constantemente atarefada, em entretenimento sociais, festas, alegre e aparentemente disposta, não nos deve deixar menos alerta, porque a depressão pode vir mascarada em comportamentos de euforia, alegria, excesso de atividades e a presença frequente em entretenimentos, como se esse modus operandi fosse uma tentativa de aplacar o sofrimento interno, como fuga, ou seja, como se pelo fato de estar sempre em movimento e ocupada não tivesse tempo para se sentir mal, por isso vale sempre estarmos atento aos comportamentos das pessoas em nossa volta para identificar previamente um pedido de ajuda.
Diante disso, cabe a mim chamar atenção para alguns dados alarmantes sobre esta doença. Segundo Laboissière (2017), respaldada pelos estudos da organização mundial da saúde (OMS), aponta que a depressão é a quarta principal causa de incapacidade em todo o mundo e segundo as projeções, em 2030, ela será a mais prevalente no planeta.
No Brasil, 5,8% da população sofre depressão, significando aproximadamente 12 milhões de brasileiros, o que coloca o país no topo da classificação de depressão na América Latina.
Um dado apresentado pela Organização Pan-Americana (OPAS) preocupa, pois aponta que o suicídio consiste na segunda maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos.

No cotidiano, observamos muito a associação entre depressão e suicídio, entretanto, vale o adendo de que este transtorno não necessariamente culminará em suicídio, pois a problemática do suicídio envolve outros fatores. Portanto, observar a depressão como um fator isolado e determinante para o suicídio prejudica a clareza necessária para lidar com este quadro patológico, seja o próprio paciente ou alguém próximo que está enfermo.
Isso posto, vale afirmar que a depressão é uma doença e ela possui tratamento. Atualmente, temos três modalidades de tratamento: Farmacológico, Psicoterápico e combinados. Importante dizer que o tratamento farmacológico deve respeitar a singularidade social e cultural da pessoa, e nesse sentido, propor um tratamento com menor risco colateral.
O tratamento combinado envolve a psicoterapia e farmacológico, este tipo de tratamento vem cada vez mais apresentando eficácia na clínica, pois garante o tratamento integral.
No meu cotidiano costumo recomendar isso sempre: caso você identifique os sintomas, procure um psicólogo, este profissional estará capacitado para lhe atender, no percurso do tratamento, caso perceba uma alta intensidade dos sintomas, este o encaminhará para um psiquiatra que está munido legalmente a prescrever um medicamento, lembrando que a prescrição de fármacos é domínio exclusivo do psiquiatra e não do psicólogo.
A psicoterapia é uma modalidade de tratamento, podendo ser realizada por profissionais psicólogos de distintas abordagem psicológicas, alguma delas: Teoria cognitiva comportamental, análise comportamental, Gestalt-terapia, humanista e a psicanálise. E o que a psicanálise tem contribuído para o tratamento da depressão?
Bom, o setting analítico é todo montado para que o paciente deixe ser o que precisa ser, e por esta premissa, faz com que o paciente se sinta confortável em atuar ou verbalizar o que precisa, diferentemente do que acontece em outros campos da vida, onde há sempre limites imposto, do que dizer ou não dizer e do que fazer ou não fazer.
Além disso, a psicanálise enxerga a depressão e os seus sintomas de uma forma totalmente distinta da psiquiatria. Coloco-me a esclarecer: a dinâmica de tratamento da psiquiatria perpassa basicamente em suprimir ou extirpar um sintoma sem antes compreender o que formulou, já para a psicanálise é como se o sintoma fosse o intermédio pelo qual o paciente vai caminhando para a base da instauração do quadro patológico, compreendendo o que e como se compôs.
De acordo com Mendes; Viana; Bara (2014) pontuam que Sigmund Freud se refere a depressão mais como um sintoma podendo estar presente em qualquer outra estrutura diagnóstica clínica do que como um diagnóstico isolado, aqui aproveito para retomar a epígrafe citada no início do texto:
“Antes de diagnosticar a si mesmo com depressão ou baixa autoestima, primeiro tenha certeza de que você não está, de fato, cercado por idiotas.”
Freud, nesta frase, nos convoca a pensar em como se configura as relações sociais, mesmo se tratando de uma afirmação do século passado, podemos ver que ainda aparece como um traço cada vez mais persistente na sociedade contemporânea, em que o olhar do outro, sua avaliação e crítica tem mais peso sobre o eu do que o próprio eu. Nesse sentido é capaz que uma vez dada ênfase a importância do olhar alheio, estaremos cada vez mais suscetíveis a nos sentirmos deprimidos.
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Para a psicanálise a depressão está relacionado a perda, seja ela o que for, e o afeto desencadeado nesta perda é o primor para intervenção terapêutica da análise bem como olhar para a significação subjetiva que o paciente dá a este momento, para por meio dos conhecimentos teóricos e clínicos, discernir sobre os quadros patológicos que ora se sobrepõem e se confundem com a depressão, como por exemplo, a melancolia.
Posto isso, entende-se que pela perspectiva psicanalítica, os estados depressivos fazem parte da vida psíquica, tendo em vista que as perdas ao longo da vida são inevitáveis e naturais, mas além disso, a psicanálise considera que são necessárias para a reorganização e criatividade dos sujeitos. Vale salientar que a psicanálise dá possibilidade de reinvenção a partir do contato e elaboração com seus próprios conflitos, favorecendo o que costumamos chamar de ressignificação.
Enfim, a depressão é uma psicopatologia, mesmo que a psicanálise tenha uma forma peculiar de observá-la, o que de maneira nenhuma reduz a sua problemática para a nossa sociedade, como observamos é uma das psicopatologias que cada vez mais cresce no Brasil e no mundo, vale dizer então, que olhar para este tema sem preconceitos favorece e corrobora no acolhimento das pessoas que estão vivenciando esta doença, bem como, é importante estar bem informado cientificamente acerca do assunto, para melhor ouvir, ajudar e encaminhar a demanda a um profissional especializado.
Além disso, a depressão pode se apresentar sobre várias facetas, como desde o estar apático ao estar atarefado, nesse sentido, é importante que as pessoas conheçam intimamente o seu círculo social e fique atentas ao que saí fora do habitual das pessoas do seu convívio, assim poderá identificar de maneira mais efetiva se algum dos seus amigos precisam de ajuda. Espero ter colaborado com informações significativas acerca desta temática que nos atravessa cada vez mais, até a próxima.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LABOISSIÈRE, Paula. No Dia Mundial da Saúde: oms alerta sobre depressão. OMS alerta sobre depressão. 2017. Disponível em: http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/no-dia-mundial-da-saude-oms-alerta-sobre-depressao/. Acesso em: 10 set. 2021.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION – APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.
Organização Pan-americana de Saúde. (OPAS/OMS). Folha informativa – Suicídio. 2018. Disponível em: <https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5671:folha-informativa-suicidio&Itemid=839>. Acesso em: 31 de março de 2020.
MENDES, Elzilaine Domingues; VIANA, Terezinha de Camargo; BARA, Olivier. Melancolia e depressão: um estudo psicanalítico. Psicologia: teoria e pesquisa, v. 30, p. 423-431, 2014.PSICANÁLISE CLÍNICA (Brasil) (ed.). Os principais pensamentos de Freud. 2019. Disponível em: https://www.psicanaliseclinica.com/pensamentos-de-freud/. Acesso em: 10 out. 2021.