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Abordagem clínica odontológica em pacientes portadores do TEA (Transtorno do Espectro Autista)

Abordagem clínica odontológica em pacientes portadores do TEA (Transtorno do Espectro Autista)

Resumo

O autismo é uma condição identificada em indivíduos que apresentam alterações comportamentais, principalmente perante o convívio social. Sendo diagnosticado a partir do terceiro ano de vida, acomete mais pacientes do sexo masculino, mas pode acometer o sexo feminino, sendo um transtorno que será levado por toda a vida do indivíduo. Não se tem uma causa definida, mas pode ter relação de uma causa única ou associado ao sistema neural. O paciente autista demonstra indiferença, dificuldades na fala, parte motora, repetição de palavras e movimentos, dificuldade de contato visual, falta de interação social, problemas no sono e alimentação, sendo alguns pontos notáveis.

Palavras-chave: Pacientes autistas. Saúde bucal. Odontologia.

Objetivo

O artigo teve como objetivo realizar uma revisão de literatura e detalhar formas de proceder no atendimento odontológico do paciente portador do autismo dentro do ambiente odontológico. Estabelecendo técnicas de abordagem clínica para que se crie um vínculo com o indivíduo e por consequência obter um tratamento satisfatório.

Introdução

O autismo ou Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno que ocasiona deficiências importantes em questões relacionadas as interações sociais e ao comportamento destes indivíduos que contém a síndrome em relação ao resto da população. (OLIVEIRA et al, 2017)

Este déficit de convívio social é um dos sintomas mais característicos destes pacientes, onde se tem diferentes graus de severidade do TEA. É possível que se note a manifestação dos sintomas relacionados ao autismo a partir dos 3 anos de idade do indivíduo, além de acometer mais o sexo masculino. A identificação deste transtorno pode ser notada inicialmente pelos pais, ocasionado por comportamentos que se diferem da normalidade aos das outras crianças. (SANTA’ANNA et al, 2017; AMARAL et al, 2018)

Devido ao fato destes pacientes autistas apresentarem condutas comportamentais distintas, é preciso que o Cirurgião Dentista diante do tratamento odontológico, elabore estratégias de atendimento e acolhimento direcionadas aos pacientes com TEA. Deste modo, ocorrerá uma consulta segura e que proporcione uma melhora na saúde bucal destes, além de estabelecer um vínculo de confiança entre o profissional e o paciente autista. (SANTA’ANNA et al, 2017; AMARAL et al, 2018)

Metodologia

Foi realizada uma revisão bibliográfica sobre os cuidados odontológicos durante o atendimento de pacientes autistas. As informações foram coletadas por meios eletrônicos como Google Scholar, Scielo e Pubmed. Fez-se o uso de palavras combinadas estrategicamente como “pacientes autistas”, “saúde bucal” e “odontologia” para a busca das informações. O critério de tempo utilizados dos artigos a partir dos últimos 9 anos.

Revisão de Literatura

O transtorno do espectro autista ainda remete dúvidas quanto a sua etiologia para os pesquisadores, podendo-se dizer que um fator principal para a causa desta alteração comportamental seria anormalidades em uma certa área do cérebro, porém ainda não se tem estudos conclusivos para este fator neurológico. Além de ser associado a genética, como por exemplo: acidose lática, esclerose tuberosa, deficiências auditivas, fenilcetonúria, entre outros. (AMARAL et al, 2012)

Além de serem interligadas a algumas síndromes como: Down, fetal alcoólica, Cornelia Lange, X-frágil, Moebius e, em alguns casos pode ter relação com condições pré-natais que não são associadas à genética, e sim à exposição química como a caxumba, herpes, sífilis, rubéola e varicela durante a gravidez. (AMARAL et al, 2012)

Os pacientes que possuem o autismo, apresentam alterações comportamentais a partir dos 30 meses de vida, onde os pais notam os primeiros sinais que se pode citar como deficiência na comunicação, ecolalia, repetição de movimentos ou palavras, indiferença a outros indivíduos, transtornos no sono ou na alimentação, sensibilidade a sons.

O TEA pode ter uma variação de severidade baseada na condição intelectual do indivíduo, podendo variar entre três níveis de severidade, afetando a comunicação e comportamentos, tendo necessidade de suporte maior do responsável para realização de atividades sociais. (SANTA’ANNA et al, 2017; AMARAL et al, 2018)

Abordagem odontológica do paciente autista

É de extrema importância a manutenção da saúde bucal adequada dos pacientes portadores do autismo. Mas a realidade é que diversas vezes estes indivíduos se apresentam ao consultório de forma tardia, onde ocorrem reflexos na cavidade oral destes, observando-se problemas orais como cáries ativas, doenças periodontais, bruxismo, má oclusão, o que ocasionará um tratamento odontológico mais cauteloso. (AMARAL et al, 2012; SANTA’ANNA et al, 2017)

Sabe-se também que a comunicação/ interação com estes pacientes deve ser construída aos poucos, onde o cirurgião dentista necessita passar para esta criança ou adulto uma confiança e criar um vínculo, para que com isso o profissional possa desenvolver os cuidados relacionados à saúde oral deste autista. Sendo preciso, na primeira consulta, conversar com o paciente e com os responsáveis para se ter ciência do histórico da criança ou adulto. (AMARAL et al, 2012; SANTA’ANNA et al, 2017)

Para que se tenha sucesso na abordagem odontológica nestes indivíduos com TEA, faz-se necessário a utilização de diversas técnicas durante as consultas objetivando a realização dos procedimentos primordiais, após a anamnese criteriosa. (AMARAL et al, 2012; SANTA’ANNA et al, 2017)

Tendo como partida o estabelecimento do contato visual com o autista, devido à falta de interação social destes pacientes. O profissional deve se manter em direção ao paciente mantendo o contato visual, conseguindo transmitir segurança. O consultório deve ter cores claras e transmitir tranquilidade e o uso de espelhos faz com que o paciente sempre mantenha contato visual durante a consulta. (AMARAL et al, 2012; SANTA’ANNA et al, 2017)

A modulação é uma técnica em que se utiliza parentes ou amigos dos autistas com o intuito que elas imitem os movimentos dos outros. Sendo sempre necessário elogios para que ela se sinta motivada a dar continuidade ao tratamento. E devido a dificuldade de entendimento aos comandos por parte destes pacientes, faz-se o uso de vídeos que demonstre a escovação, onde sempre que este material for reproduzido a criança imitará todos os passos, mesmo que esteja em um ambiente de consultório. (AMARAL et al, 2012; SANTA’ANNA et al, 2017)

Os pacientes autistas demonstram um grande gosto musical e devido a isto, pode ser de grande interesse e prazer fazer a criação de músicas para que estas crianças desenvolvam a escovação escutando o som. Por terem uma ótima memória eles podem se negar à realização da prática se por alguma razão a letra for trocada durante o processo. Por isso, é necessário gravar a música e colocá-la sempre para tocar, com o intuito deste seguir as instruções. (AMARAL et al, 2012; SANTA’ANNA et al, 2017)

O Método TEACCH (Tratamento e educação para crianças autistas e com distúrbios correlacionados à comunicação) trata-se de uma organização do meio, ou seja, é o uso de uma rotina desenvolvida em quadros, agendas e painéis, para que se tenha sequência de ações. Com isso a criança perceberá o padrão das ações e as fará sem que precise de um responsável, adquirindo assim independência nas atividades. Na odontologia este método pode ser referenciado a escovação como exemplo. (AMARAL et al, 2012; SANTA’ANNA et al, 2017)

Outro método usado é o PECS (Sistema de Comunicação por figuras), ajudando no desenvolvimento da fala através do uso de diferentes imagens que mostrará o desejo da criança de uma forma mais rápida. Além de ajudar na comunicação do profissional durante o atendimento, onde a cada realização de uma etapa, o cirurgião dentista troca a imagem e faz um elogio ao paciente. (AMARAL et al, 2012; SANTA’ANNA et al, 2017)

O ABA (Análise aplicada ao comportamento), tem a finalidade de ensinar habilidades que o autista não tem, demonstrando por etapas. Ou seja, a cada comportamento positivo é importante, fazer um elogio ou utilizar recompensas para demonstrar que aquela ação é adequada, com isto demonstrará que ações inadequadas não são corretas e não ocasionará recompensas. Pode-se citar o método dentro da odontologia, quando o dentista solicitar que o paciente abra a boca durante o procedimento. (AMARAL et al, 2012; SANTA’ANNA et al, 2017)

O Programa Sonrise tem como objetivo a interação da criança autista com outras pessoas no intuito de troca de informações, fazendo com que se construa uma relação de confiança com o autista. Utilizando na odontologia, o profissional deverá tornar as consultas prazerosas e com isso atiçará o interesse do paciente. Fazendo os procedimentos de formas divertidas e tendo a participação dos responsáveis para incentivo da criança. (AMARAL et al, 2012; SANTA’ANNA et al, 2017)

Todas estas técnicas em conjunto com abordagens utilizadas em odontopediatria como: dizer-mostrar-fazer, reforço positivo, controle de voz, utilização de recompensa, toque e distração. São aplicadas durante o tratamento odontológico nos pacientes autistas com grau de severidade mediano e que sejam colaboradores. (AMARAL et al, 2012; SANTA’ANNA et al, 2017)

O uso da sedação consciente é uma forma para que se consiga que o paciente fique mais calmo e tranquilo durante a consulta. Pode ser indicado quando este não é colaborativo, onde todas as abordagens citadas acima foram feitas e não se obteve sucesso. É necessário que a criança se permita ser sedada e que se tenha autorização dos responsáveis. (AMARAL et al, 2012; SANTA’ANNA et al, 2017)

Em relação ao atendimento sob anestesia geral feito em âmbito hospitalar só será recomendada quando todas os outros métodos forem descartados. É preciso que o profissional esteja convicto da terapêutica proposta e é preciso que os pais assinem o termo de responsabilidade de que estão cientes da conduta que será realizada para o tratamento. (AMARAL et al, 2012; SANTA’ANNA et al, 2017)

Conclusão

Conclui-se que existe uma grande dificuldade durante o atendimento dos pacientes que são portadores do transtorno do espectro autista. Sendo preciso criar um vínculo entre o profissional dentista e o paciente, onde este transmitirá confiança e segurança a esta criança.

É preciso que este cirurgião dentista tenha conhecimento de como desenvolver técnicas de abordagem para que se tenha a facilidade de tratamento durante as consultas periódicas destes pacientes, para que não seja necessário fazer uso de atendimento sob anestesia geral. Além da importância de uma boa relação do profissional com a família do paciente, para que se consiga entender os níveis de severidade do transtorno e auxiliar na melhora da saúde bucal da criança de forma efetiva.

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Referências

SANT`ANNA, L.; BARBOSA, C.; BRUM, S. Atenção à saúde bucal do paciente autista. Revista Pró-universus, v.8, n.1, p.67-74, jan./jun 2017.

AMARAL, C.; MALACRIDA, V.; VIDEIRA , F.; PARIZI, A.; OLIVEIRA, A.; STRAIOTO, F. Paciente autista: métodos e estratégias de condicionamento e adaptação para atendimento odontológico. Arch Oral Res, v.8, n.2, p.1 43-51, May./ Aug. 2012.

AMARAL, L.; ANDRADE, R.; PEDROSA, D.; MARSIGLIO, A.; PERUCHI, C.; MIRANDA, A. Dental care to patients with autism: clinical management guidelines. Rer. Bras, odontol, v.75, 2018.

OLIVEIRA, K.G; SERTIÉ, A.L. Autism Spectrum Disorders: Na Updated Guide for Genetic Counseling. Rev.Ciência básica, v.15, n.2, pag. 233-238, 2017.

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