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Músculos faciais e suas implicações no uso da toxina botulínica | Colunista
O Conselho Federal de Odontologia reconhece e regulamenta por meio das Resoluções CFO – 198/2019 e CFO – 230/2020 a prática da Harmonização Orofacial (HOF) pelo Cirurgião-dentista.
O profissional que deseja atuar na área precisa dominar anatomia da face, inclusive os músculos com importância na detecção de rugas, deslocamento e durabilidade de substâncias injetáveis, entre outras áreas de estudo e o texto a seguir pretende inferir o conhecimento de anatomia muscular necessário às práticas de HOF.
MÚSCULOS DA EXPRESSÃO FACIAL
O músculo occipitofrontal é originado na gálea aponeurótica e sua porção frontal inserida na pele do supercílio ou na linha dos cabelos, o que pode gerar variação na localização das rugas de cada indivíduo. A função deste músculo é elevar a pele e produzir as rugas hipercinéticas da fronte, conhecidas popularmente como rugas de expressão.
A contração do corrugador do supercílio puxa medialmente e para baixo a pele do supercílio criando rugas glabelares. A relação desse músculo com o septo orbitário e, por conseguinte, com o músculo elevador da pálpebra é importante quando o objetivo é tratar a pálpebra superior. Essa relação também explica os casos de ptose palpebral quando da aplicação de toxina botulínica. O músculo corrugador do supercílio origina-se na margem supraorbital do m. frontal e insere-se na pele da extremidade lateral do supercílio.
O músculo prócero tem como função puxar para baixo a parte medial dos supercíclios, sendo a causa das rugas transversais glabelares. Se alongado ou hipertrófico são responsáveis, também pelas rugas transversais nasais (TAMURA, 2010). O músculo prócero tem origem no osso nasal e inserção na pele da glabela.
Com origem quase totalmente cutânea, nos ligamentos palpebrais, pele orbital, osso lacrimal e maxila, o músculo orbicular dos olhos apresenta função de esfíncter e por isso é responsável pelo fechamento e compressão dos olhos.
A aplicação de toxina botulínica como forma de tratamento para rugas relacionadas a este músculo deve atingir toda área a ser relaxada, portanto devem ser feitas várias injeções. Contudo, quando o tratamento for excessivo, pode haver protrusão da gordura periocular e surgimento de bolsas, edema palpebral por deficiência de drenagem linfática e alteração da glândula lacrimal que gera secura ocular. A inserção do músculo orbicular dos olhos é palpebral e periorbital.
O levantador do lábio superior e da asa do nariz, além de responsável por elevar o lábio superior e asa do nariz, participa da dilatação do nariz. O músculo está associado ao tratamento de sorriso gengival e suavização do sulco nasolabial com toxina botulínica. O músculo levantador do lábio superior e da asa do nariz tem origem no processo frontal da maxila e inserção no lábio superior e na asa do nariz.
Quando o objetivo é tratar sorriso gengival com o relaxamento do músculo levantador do lábio superior, deve-se ter cuidado com as dosagens de toxina botulínica injetada para evitar problemas na ação deste músculo. A origem do levantador do lábio superior é na margem infraorbital e inserção no lábio superior. Sua ação se restringe ao que seu nome indica.
A aplicação de toxina botulínica nos músculos zigomáticos e risório podem amenizar o sulco nasolabial e as rugas dessa região, porém mudanças ocorrerão na expressão facial dessa região e no sorriso do paciente. O músculo zigomático menor origina-se no osso zigomático e insere-se no lábio superior, tendo como função levantar o lábio superior.
Já o músculo zigomático maior origina-se também no osso zigomático e tem inserção no ângulo da boca com função de levantar e retrair o ângulo da boca. O músculo risório retrai o ângulo da boca, tem origem na pele da bochecha e fáscia massetérica e inserção no ângulo da boca.
A elevação do ângulo da boca se dá por ação do músculo levantador do ângulo da boca cuja origem é a fossa canina da maxila e inserção no ângulo da boca. O músculo do pescoço platisma pode ter influência no contorno facial de alguns pacientes devido sua inserção ser na base da mandíbula e algumas de suas fibras inserirem-se no angula da boca. Por esse motivo, ao se tratar o contorno facial é de extrema importância que seja avaliada a extensão e localização do platisma antes das injeções medicamentosas.
Embora o músculo bucinador seja classificado como musculo da expressão facial, não é comumente tratado em procedimentos estéticos, sua importância é referida à cirurgia dermatológica. É responsável pela distensão e compressão da bochecha aos dentes e retração do ângulo da boca. Origina-se nos processos alveolares da maxila e da mandíbula na região molar e no ligamento pterigomandibular. A inserção é no ângulo da mandíbula.
O músculo nasal cuja inserção é o dorso do nariz e origem na eminência da narina, exerce a compressão (parte transversa) e dilatação (parte alar) da narina. O tratamento do musculo nasal com injeções de toxina botulínica reduz as rugas nasais e em alguns casos, minimiza a abertura da asa do nariz. O músculo abaixador do septo nasal apresenta importância para a HOF por ser responsável pelo encurtamento do lábio superior e por abaixar a ponta do nariz durante o sorriso.
Na região dos lábios e localizado superficialmente, o músculo orbicular da boca comprime os lábios contra os dentes e fecha a boca, tem inserção na pele e mucosa dos lábios e septo nasal e origem quase toda cutâneo, nas fóveas incisivas da maxila e mandíbula. Por nesta região também haver outros músculos relacionados às funções de elevar, deprimir e retrair os lábios e por ser um músculo superficial, deve-se ter cuidado com a aplicação de toxina botulínica para que estes não sejam relaxados sem intensão. Importante ressaltar que os músculos platisma e depressor do ângulo da boca são responsáveis pela formação das rugas linhas de marionete.
Os músculos, depressor do ângulo da boca e depressor do lábio inferior têm função determinada pelo seu nome, ambos originam-se na base da mandíbula e inserem-se, respectivamente, no ângulo da boca e lábio inferior. O músculo mentoniano age enrugando a pele do mento e everte o lábio inferior, origina-se na fossa mentoniana e insere-se na pele no mento.
O músculo, elevador da pálpebra superior como o próprio nome já sugere, age elevando a pálpebra superior, sendo que o mesmo origina-se na asa menor do osso esfenoide e faz inserção tanto na pele da pálpebra superior quanto na placa tarsal.
O músculo de Müller é responsável pela abertura palpebral involuntária, apresenta dez mm de extensão, controle simpático e insere-se na margem superior da lâmina tarsal. O deslocamento ou injeção de toxina botulínica em elevada quantidade nessa área pode levar a ptose palpebral.
Quando há ocorrência de ptose palpebral, utiliza-se de colírios estimulantes do sistema adrenérgico ou atuantes nas prostaglandinas para induzir ação do músculo de Müller ajudando no levantamento de um ou dois mm da pálpebra como forma de substituir parte da ação perdida do músculo elevador da pálpebra superior.
MÚSCULOS DA MASTIGAÇÃO
O músculo temporal eleva e retrai a mandíbula no processo da mastigação e apresenta dois feixes, superficial e profundo. A parte superficial do músculo temporal tem origem na fossa temporal e inserção no processo coronóide, e a parte profunda origina-se no tubérculo esfenoidal, inserindo-se também no processo coronóide e na crista temporal da mandíbula. Quando um paciente apresenta hipertrofia associada do temporal, o uso da toxina botulínica como forma de tratamento resulta em alongamento e suavização do contorno facial.
O músculo masseter, cuja função é elevar a mandíbula, possui duas porções: profunda e superficial, ambas com origem no osso zigomático. A parte superficial apresenta inserção na face lateral do ramo da mandíbula e, a parte profunda na tuberosidade massetérica. Por ser um músculo forte e potente, alguns pacientes são passíveis de hipertrofia patológica que pode ser tratada por meio de procedimentos dermatológicos tal como a suavização de contorno facial.
Apesar de o pterigoideo medial ser um músculo pequeno, exerce a função de elevar e protrair a mandíbula. Origina-se na fossa pterigoidea e processo pterigoide do osso esfenóide e insere-se na superfície interna do ângulo da boca.
O músculo pterigoideo lateral é o único dos músculos da mastigação que se relaciona com a articulação temporomandibular. Apresenta duas cabeças de origem, superior e inferior, na superfície infratemporal da asa maior do osso esfenoide e na face lateral da lamina lateral do processo pterigoideo, respectivamente. Sua inserção é conjunta na fóvea pterigoidea.
Os músculos, pterigoideo medial e pterigoideo lateral, dificilmente são tratados dermatologicamente, as intervenções são cirúrgicas.
As novas diretrizes do CFO relacionadas ao campo de atuação do Cirurgião-Dentista especialista em Harmonização Orofacial urgem a necessidade do estudo da anatomia muscular facial. Portanto, é impossível não relacionar anatomia muscular facial com as técnicas de uso da toxina botulínica.
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REFERENCIAS
Conselho Federal de Odontologia. CFO regulamenta prática de procedimentos cirúrgicos em Harmonização Orofacial. Brasília – DF, CFO 2020. Disponível: https://website.cfo.org.br/cfo-regulamenta-pratica-de-procedimentos-cirurgicos-em-harmonizacao-orofacial/. Acesso: 18 de jan de 2022.
Conselho Federal de Odontologia. RESOLUÇÃO CFO-198, de 29 de janeiro de 2019. Brasilia – DF, 2019. Disponivel em: https://sistemas.cfo.org.br/visualizar/atos/RESOLU%c3%87%c3%83O/SEC/2019/198. Acesso: 18 de jan de 2022.
MADEIRA, M. Anatomia Facial com fundamentos de anatomia sistêmica geral, 1ª edição, 2004.
TAMURA, Bhertha M. Anatomia da face aplicada aos preenchedores e à toxina botulínica – Parte II Surgical & Cosmetic Dermatology, vol. 2, núm. 3, julio-septiembre, 2010, pp. 195-202 Sociedade Brasileira de Dermatologia. Disponível em: http://www.academiamedicinaestetica.cl/assets/anatomia-aplicada-al-uso-de-toxina-botulinica-y-rellenos-2.pdf. Acesso em: 18 de jan de 2022.